domingo, 30 de agosto de 2009

DE TODAS AS OBRAS - Bertolt Brecht

De todas as obras humanas, as que mais amo são as que foram usadas.


Os recipientes de cobre com as bordas achatadas, e com mossas


os garfos e facas cujos cabos de madeira


Foram gastos por muitas mãos; tais formas


São para mim as mais nobres. Assim também as lajes


Polidas por muitos pés, e entre as quais


Crescem tufos de grana: estas são obras felizes.


Admitidas no hábito de muitos


com frequência mudadas, aperfeiçoam seu


formato e tornam-se valiosas


Porque delas tanto se valeram.


Mesmo as esculturas quebradas


com suas mãos decepadas, me são queridas. Também elas


São vivas para mim. Deixaram-nas cair, mas foram carregadas.


Embora acidentadas, jamais estiveram altas demais.


As construções quase em ruína


Têm de novo a aparência de incompletas


Planejadas generosamente: suas belas proporções


Já poem ser adivinhadas, ainda necessitam porém


De nossa compreensão. Por outro lado


Elas já serviram, sim, já foram superadas.


Tudo isso me contenta.

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